domingo, 13 de novembro de 2011

Miami Vice: Um Legado

Se me perguntassem qual a minha série favorita, eu responderia sem hesitar: “Miami Vice!”. As suas cores vibrantes, o visual e o estilo frenético seduziram-me,
Miami Vice era uma série muito à frente do seu tempo. Assuntos como drogas ou prostituição deixavam de ser tabu numa série de tv. Tudo mudou em 1984, ou seja: na primeira temporada.

 
Apesar de ser criada para a geração da MTV, a série era mais do que plasticidade, surgia uma estética muito própria, o ritmo atmosférico remeta-nos de imediato para Scarface (Brian De Palma, 1983); repare-se também na presença decorativa de exteriores art déco, nos edifícios e praias que servem de pano para a série. Os criminosos, na sua maioria traficantes de droga, não estão longe da linha ténue que separa-os dos policias - Crockett e Tubbs disfarçam-se de traficantes, vivem a vida deles e respiram o ar irrespirável de uma Miami obscura, escondida pela noite. Eles praticamente vivem uma farsa: mal têm dinheiro no banco, mas vestem roupas caras e italianas, guiam Ferraris, usam Rolex e desfrutam de férias milionárias. A vida real que a dupla vive é o oposto, principalmente Crockett – divorciado e à beira da loucura, com o desenrolar da série Crockett terá um futuro nada promissor. Nota final: a dupla, enquanto falsos traficantes, usam os nomes falsos: Burnett e Cooper. 

Depois de assistir a uns filmes de Michael Mann (do qual aprecio muito) pude notar que muito das suas personagens têm semelhanças com Sonny Crockett, o verdadeiro herói arquétipo dos seus filmes. Note-se a obsessão pelo trabalho de Robert De Niro em Heat ou até mesmo na personagem interpretada por William Petersen no excelente Manhunter. Nesse mesmo filme podemos notar já o uso forte das cores, a presença da estética art Déco e o ritmo sufocado pela adrenalina. Há muito disso em Sonny Crockett e Miami, mesmo não sendo criação de Michael Mann.

Tubbs é o oposto de Crockett, descontraído, culto e, na maioria, um cómico. É a outra face da mesma moeda. Impossível de voltar a Nova Iorque, Tubbs permanece em Miami durante cinco anos. A sua preferencia por carros antigos leva-o a utilizar um belíssimo Cadillac Deville de 1963.

  

Personagens secundárias

Existe uma outra dupla na série: Stan Switek e Larry Zito e a dupla feminina Gina Calabrese e Trudy Joplin. A primeira dupla vive situações cómicas, mas diminui na segunda temporada, na terceira Zito tem um destino inesperado pondo termo à personagem. Stan Switek, com o passar da série, principalmente depois da morte de Zito, vai ficando cada vez mais pessimista e assistimos à sua decadência moral ao afundar-se no vicio do jogo e nas suas decepções pessoais. A segunda dupla, Gina e Truddy, normalmente disfarçam-se de prostitutas. Gina terá um papel importante na vida pessoal de Crockett, chegando a ser amantes num episódio.
O Tenente Lou Rodriguez aparecerá apenas em três episódios iniciais, sendo substituído no sexto episódio pelo Tenente Martin Castillo, uma personagem mais séria, disciplinada e raramente sorridente. Habitualmente vemo-lo vestido de preto, dando-lhe uma aura enigmática, mas lentamente vamos descobrindo mais sobre essa personagem.



Ao contrários de outras séries na altura, Miami Vice não tomou um caminho moralista e era raro que um episódio acabasse bem. Dir-se-ia também que era possível filmar cinema numa série televisiva. As cores pastéis, os jogos das luzes, a estética dominante e a música no lugar dos diálogos só provava que a série tinha uma identidade muito própria. Miami Vice entra no apogeu na terceira série, tornando-se mas pessimista e nunca assistimos a um jogo de cores tão fortes como nesta temporada. Também contamos com o famoso Ferrari Testarossa. A morte de Zito foi o acontecimento derradeiro nesta temporada. A partir daqui as coisas mudavam.
Nos últimos episódios da quarta temporada assistimos ao coma de Crockett, ao assassinato da noiva de Crockettt e, como se não bastasse, ao apogeu do alter ego de Crockett, Burnnett como traficante de droga. Os fãs, torturados, tiveram que esperar um ano pela quinta e ultima temporada.
Na quinta temporada o compositor Jan Hammer é substituído por Tim Truman. Notamos uma reviravolta da personagem Sonny Crockett: cada vez mais pessimista e apático, é acompanhado por uma terapêutica. A burocracia e o declínio são temas que dão cada vez mais vida à ultima temporada, o FBI, cortes de verbas e a corrupção tornam-se um mal maior e impossível de combater.  Não é de admirar que no ultimo episódio a dupla, descontente, demite-se da policia.


Conclusão:

Porque é que Miami Vice era diferente de todas as séries de Tv nos anos 80? É fácil: basta assistir a séries como Barco Do Amor, Knight Rider, A-Team ou MacGyver para chegarmos à conclusão que existia uma certa ingenuidade infantil comparada com a seriedade e intensidade de Miami Vice. Temas como drogas – pela primeira vez consumia-se no ecrã – , incesto, violação, homossexualidade, prostituição e jogos políticos eram mostrados de forma crua. É claro que existiam um ou dois episódios cómicos em cada temporada, mas isso não impossibilitava de levar a  sério a série. A sofisticação visual era figura dominante da série, um dos factores importantes que levaram a série a destacar-se de muitas outras.
Miami Vice será sempre a minha série favorita, pelo simples facto de ser única. Impossível de imitar, impossível de desviar os olhos da asfixiante cidade e dos seus cidadãos, cada beco, cada esquina tinha uma história a ser contada. Passado mais de vinte anos desde a ultima série, Miami Vice continua a acolher enorme legiões de fãs por todo o mundo.

Sem comentários:

Enviar um comentário